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Alberto Carlos Almeida

Cientista político, sociólogo e pesquisador

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Cientista político, sociólogo e pesquisador

O que torna difícil escapar da polarização Lula versus Bolsonaro

por | jun 2, 2021 | Opinião Pública, Política | 2 Comentários

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Aécio Neves foi eleito Governador de Minas Gerais em 2002 e reeleito em 2006. Na eleição de 2010 foi novamente bem votado no estado que representa o segundo maior colégio eleitoral do Brasil, com mais de 10% do eleitorado nacional. Naquela oportunidade ele foi eleito senador. É interessante notar que mesmo assim ele teve uma enorme dificuldade de se tornar um candidato competitivo quando enfrentou Dilma Rousseff em 2014.

O caso de Aécio Neves revela que há uma grande barreira a ser ultrapassada – de opinião pública – quando se deseja ser uma primeira, segunda ou terceira via na eleição para presidente: o nível de conhecimento nacional do candidato. O que aprendemos com isso é que mesmo governando por quase oito anos 10% do eleitores brasileiros, e sendo eleito senador por eles, mesmo nesta situação confortável em termos de visibilidade regional e nacional o candidato tucano em 2014 só conseguiu ter chance de chegar no segundo turno na última semana da campanha eleitoral de primeiro turno.

Naquela oportunidade ele disputava com uma presidente que concorria por sua reeleição, sendo, portanto, conhecida por todo o eleitorado do país, e com uma candidata – Marina Silva – que tinha obtido na eleição anterior praticamente 20% dos votos para presidente. A tarefa de Aécio era hercúlea, ele precisava deslocar do segundo turno duas mulheres muito mais conhecidas do que ele. Ele acabou tendo sucesso ao ultrapassar Marina nos últimos dias que antecederam ao primeiro turno.

Tudo indica que em 2022 este objetivo é ainda mais difícil. Disputarão a eleição o atual presidente e um ex-presidente que teve oito anos de mandato, deixando o cargo com uma avaliação positiva que até hoje é lembrada pelo eleitorado. Assim, será oferecida ao eleitor duas opções: a de manter o atual governo votando-se em Bolsonaro ou de mudar o governante escolhendo-se alguém testado e aprovado, Lula.

Eleições são de mudança ou de continuidade. No caso de 2018 tratou-se de algo raro: uma eleição de mudança em relação a tudo que representasse o establishment, disto decorre o sucesso de Bolsonaro. Em 2022 é ele quem representa a continuidade. Aqueles que avaliam seu governo como sendo ótimo e bom tendem a votar nele. A esperança de alguns defensores de uma terceira via é que tal avaliação despenque e alguém de direita possa ficar com seus votos. É possível, mas não é provável. No pior momento da crise que combina mortes por uma pandemia e desemprego, a avaliação do Governo Bolsonaro chegou a um mínimo de 25%. Isto significa que qualquer melhora da situação sanitária e econômica poderá resultar na melhoria de sua avaliação positiva.

Por outro lado, quem avalia o governo como sendo ruim e péssimo vê em Lula a chance de mudança. Bolsonaro encarnou o anti-petismo em 2018 e desde então o PT é o principal opositor do atual governo. A decisão que reabilitou politicamente Lula colocou no jogo eleitoral alguém muito conhecido nacionalmente e aprovado por aqueles que se consideram beneficiados em seus governos. Não há nenhum candidato de oposição a Bolsonaro que reúna estas duas características.

A barreira à terceira via se chama opinião pública, sua inércia é imensa. A visão que os eleitores têm dos candidatos não funciona como uma lancha que se pode manobrar com rapidez e facilidade, mas sim como um petroleiro cuja dificuldade de mudar de direção é imensa. Além disso, o desenho geral da eleição já está definido com um presidente que disputa a reeleição como pião do jogo, algo inexistente em 2018. Do ponto de vista dos eleitores insatisfeitos com este pião, nada mais adequado para derrubá-lo do centro do tabuleiro do que outro pião já conhecido de todos.


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2 Comentários

  1. Pedro

    Não existe polarização na política brasileira. Para de reforçar bordão de jornalista que não estuda. Lula tem se aproximado do centro e o Ciro tem se aproximado da centro-direita. Quem está na extrema-esquerda para polarizar com o Bolsonaro? NINGUÉM!
    Parece que as pessoas não sabem que vão dois candidatos para o segundo turno. Querem que passe a ir três candidatos para o segundo turno? Ora bolas.

    Responder
  2. SERGIO ESCOBAR

    Existe sim a polarização. Não é necessariamente simétrica. Temos de um lado um idiota extremista e de outro um candidato de centro esquerda. Qualquer candidato que dispute com o Bolsonaro vai polarizar já que com ele não tem meio termo.

    Responder

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