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Alberto Carlos Almeida

Cientista político, sociólogo e pesquisador

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A chapa Lula – Alckmin é a aliança PT – PSDB

por | jan 4, 2022 | Política | 1 Comentário

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Geraldo Alckmin ficou no PSDB entre 1988 e 2021. A sua militância política começou no MDB juntamente com Franco Montoro, José Serra, Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas. Todos abandonaram a sigla para fundar o partido que viria a ter no Estado de São Paulo a sua coluna vertebral política e principal base eleitoral. Entre 1991 e 1994, Alckmin foi presidente do PSDB no Estado quando teve a oportunidade de estruturar o partido nos municípios. Essa parte de sua história política foi ofuscada por todas as vezes em que governou São Paulo assim como pelas duas oportunidades em que disputou a presidência. O fato concreto é que sua longa trajetória como tucano fez com que suas principais relações pessoais e políticas viessem a ser estabelecidas com políticos do PSDB. Assim, pouco importa qual será o futuro partido de Alckmin caso ele venha a ser o companheiro de Lula na corrida presidencial, qualquer que seja a agremiação os apoios que conquistará para a chapa virão das hostes tucanas.

O candidato a presidente do PSDB, João Doria, defendeu no passado recente a expulsão de Beto Richa, ex-governador do Paraná, e de Aécio Neves, que também foi governador por dois mandatos em seu estado, Minas Gerais. A postura de Doria plantou na relação política entre ele e estes dois caciques regionais uma desconfiança de difícil solução e abriu caminho para que eles seguissem rumo próprio na eleição de 2022. Recentemente Aécio Neves afirmou que Lula estava eleitoralmente muito forte em seu estado e adicionou dizendo que o líder do PT é um bom companheiro para uma conversa de bar. Doria é um traço nas pesquisas para presidente e Beto Richa e Aécio concorrerão para deputado federal, o segundo buscando a reeleição. O melhor é que suas candidaturas sejam objeto da campanha de prefeitos e vereadores que pedirão votos para eles, para Lula e algum aliado regional ao governo de estado. Doria não puxa voto. Não apenas a conjuntura de opinião pública e política leva a isso, mas também é ajudada por um vice da importância de Alckmin. Beto Richa e Aécio, com a discrição que caracteriza os bons políticos, levarão os prefeitos aliados a trabalhar por Lula.

Já o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, terá a chance de, como vice de Lula, dizer a centenas de prefeitos de seu estado que caso Lula ganhe, ele Alckmin trabalhará com afinco para que recursos (não secretos) do Orçamento da União sejam direcionados aos municípios cujos chefes locais fizerem campanha para Lula. É claro que Beto Richa e Aécio poderão utilizar o mesmo argumento em função da longa relação política que tiveram com Alckmin. O que vale para São Paulo, Paraná e Minas Gerais poderá também vir a acontecer em outros estados e ser suficiente para viabilizar a eventual vitória de Lula no primeiro turno, a ver.

Lula e Alckmin estão na realidade construindo a aliança entre PT e PSDB que não foi possível enquanto o PSDB era um partido grande, não se aliava ao Centrão e não perdia seu eleitorado para um político muito a sua direita, Bolsonaro. Este três acontecimentos conjugados abriram o caminho para que figuras importantes do partido de Fernando Henrique pendessem para o PT. Diga-se que a figura de Lula, um conciliador e um conservador para padrões esquerdistas, facilita tudo. Os tucanos de hoje na Câmara dos Deputados mais se comportam como parlamentares do Centrão do que do velho e bom PSDB. Já que está sendo assim, nada impede que eles venham a fazer parte de um eventual governo presidido por Lula e tendo Alckmin de vice.

A ajuda de Bolsonaro para essa inflexão tem sido formidável. O eleitorado que já votou em Serra, Alckmin e Aécio entre 2002 e 2014 foi inteiramente transplantado para Bolsonaro em 2018. Além disso, ao fincar os dois pés na extrema-direita quanto aos costumes e à imagem, e ao aceitar uma agenda legislativa fiscalmente irresponsável liderada pelo Centrão, Bolsonaro fornece a muitos tucanos um importante empurrão em direção ao PT. Vale lembrar que Lula aumentou o superávit fiscal definido apenas no segundo mandato de Fernando Henrique, além de ter feito uma reforma da previdência do funcionalismo público que contou com os votos tucanos na Câmara e no Senado.

Por fim, também é importante ressaltar que as figuras mais importantes e históricas do PSDB de São Paulo, José Serra, Aloysio Nunes Ferreira e Fernando Henrique Cardoso, mantém um eloquente silêncio acerca da chapa Lula – Alckmin. É aquela situação típica em que nenhuma palavra vale mais do que mil imagens.


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1 Comentário

  1. Carlos Augusto

    Gostaria de ver este tom conciliador do Lula. Ele sabe como fazer e ser uma espécie de Nelson Mandela nosso.

    Responder

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