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Alberto Carlos Almeida

Cientista político, sociólogo e pesquisador

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Luana Araújo e a inflexão de um segmento do eleitorado

por | jun 3, 2021 | Opinião Pública, Política | 10 Comentários

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A pessoas da esquerda mais dura e inflexível criticaram fortemente o apoio que Luana Araújo teve da esquerda moderada em seu depoimento na CPI da Covid. Eles alegam que se ela aceitou um convite para o Governo Bolsonaro é porque ela concorda com a visão de mundo do Presidente da República. Para fortalecer esta crítica, foram postados posicionamentos de Luana nas redes sociais apoiando e elogiando Bolsonaro, Joice Hasselmann, Janaína Pascoal dentre outras publicações suas que comprovavam seu apoio a políticos de direita. Tudo isso é verdade.

O que os críticos de Luana Araújo perdem é a capacidade de observar a inflexão de um certo segmento do eleitorado que votou em Bolsonaro em 2018, mas dificilmente o fará de novo em 2022. A infectologista aceitou o convite para formular e implementar uma política pública dentro de um governo de extrema direita. Porém, antes de assumir formalmente o cargo ela foi defenestrada. É evidente que a partir daquele momento Luana Araújo passou a rejeitar o Governo Bolsonaro sob o argumento de que não se trata de um governo sério.

A confirmação desta visão veio na CPI da Covid quando ela se opôs a todos os senadores governistas e concordou com todos os senadores oposicionistas. O bom entendedor sabe que ela tenderá a votar em Lula em 2022.

Luana Araújo representa a inflexão de um pequeno segmento do eleitorado de escolaridade e renda alta que votou em Bolsonaro em 2018 e que caminha para votar em Lula em 2022. Em todos os lugares do mundo o eleitorado de renda e escolaridade mais elevadas vota proporcionalmente mais em partidos de direita e os pobres em partidos de esquerda. É claro que há pobres de direita e não-pobres de esquerda. Todavia, em 2018 uma das faces da rejeição ao PT foi a grande empolgação que Bolsonaro despertou não apenas junto a uma ampla fatia dos mais pobres, mas principalmente no eleitorado de classe média-alta. Isso já não ocorre hoje.

Abra-se um parêntesis para a Nova Inglaterra, uma região dos Estados Unidos não muito distante de onde Luana Araújo fez mestrado. Lá uma fatia maior do eleitorado de escolaridade e renda alta vota nos democratas (esquerda norte-americana) do que ocorre nos estados do Meio-Oeste. Ou seja, a elite econômica da Nova Inglaterra é mais democrata do que a elite econômica do Kentucky.

De volta ao Brasil é possível afirmar que a elite econômica de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, de onde é Luana Araújo, tenderá a rejeitar mais Bolsonaro em 2022 do que a mesma elite de Roraima, Rondônia ou do Amazonas. A ver. O fato é que a visão da esquerda inflexível dificulta ver os fatos, impede que tenhamos acesso à verdade: a inflexão de uma fatia do eleitorado que abandonará Bolsonaro e votará em Lula em 2022.


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10 Comentários

  1. Jorge Rafael da Costa Lopes

    Vale a pena levar em consideração o depoimento dela ao senador Girão, no qual demonstrou sua posição em relação a questão da corrupção, dizendo que ela mata. É claro que isto é verdade, mas a ênfase foi aquela típica da apelação de direita. Para votar em Lula, ela terá que lutar contra seu antipetismo.

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  2. LUIS VANDERLEI LARGUESA

    Já disse a companheiros do partido, mais a esquerda que eu: Com o pensamento de exclusão de grandes parcelas da sociedade, nunca estaríamos discutindo o golpe contra o PT, Lula, Dilma e a esquerda, pois nunca teríamos chegado ao governo pra ter legado a defender.

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  3. Edvaldo Monteiro

    Então,fico imaginando,uma equipe toda presa e um cientista político afirmando que ,em 2022,o eleitor irá votar nesta equipe, por está “arrependido” por ter votado na direita.Se uma pessoa colocar a arma em sua direção e levar seu dinheiro,basta ter um apoio de um setor “superior”da justiça,o perdão é líquido e certo.Em vários Países morreram milhares de pessoas então os ” líderes” são os “Genocidas” ?

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  4. Nilton

    Inflexão dela, Prof. Que, claramente competente e de inteligência adstrita ao método científico, por um lado e claramente disposta a integrar um governo abertamente fascista e genocida… e viu -se claro como a luz do Sol, que a Luana não abriria mão de seu compromisso com a ciência na mesma medida que não se deu ao de uma crítica direta ou julgamento sequer ao presidente e deu governo. Diria que mais do que adesão ao bolsonarismo, a inflexão e do antilulismo da bela Dra.

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  5. Virgílio Almansur

    Caro Alberto,
    Não vejo essa “transferência” de votos à Lula, a partir do que você desenvolve, em especial no seu quarto parágrafo.
    Não se pode desconhecer o universo médico e do médico. Em geral, é uma classe desorganizada e composta por um reacionarismo típica do pequeno-burguês em ascensão. Dificilmente abraçam causas progressistas. O árduo trabalho em serviço público acende uma certa tomada de consciência que costuma ocorrer na maturidade. Tardiamente… Poucos são os médicos que se interessam pela política, pela troca de experiências e do próprio mundo em que se insere.
    Na área da Saúde Pública encontramos uma composição curiosa, onde quem trabalha no front tende às políticas com maior preocupação social e entendendo que é possível abraçar a população vulnerável. No entanto, há aqueles que fazem do serviço médico um compromisso burocrático; estes sempre reclamam das péssimas condições e se escudam nelas para se voltar contra tudo que implique a atenção básica que é vista como “resultado das políticas de esquerda”. No flanco intermediário, onde imperam os ambulatórios, a aridez domina; é onde encontramos as posições mais estúpidas e onde o direitismo impera até ao extremismo. Desse caldo são compostas as secretarias, onde encontramos trabalhos sendo anulados mutuamente em razão desses perfis políticos que se constrõem paulatinamente e cujo antagonismo não tem clareza.

    As práticas em Saúde Pública trazem essas diversas nuances e é possível que alguns médicos comecem a burilar conhecimentos e se transformem no caminho. O exaustivo trabalho impede sensibilidades maiores e pauta muitas das performances das políticas de saúde. Aqueles que se dedicam ao aperfeiçoamento, especializações — e têm o propósito de um schoolar —, tendem a uma visão mais abrangente e conseguem se compor àqueles menos reativos e com os compromissos verdadeiramente sociais.

    Acredito que esse universo requer uma acuidade maior. Não é por acaso a existência de figuras tão inexpressivas nos conselhos de classe (vide o próprio CFM…) e que tiveram proeminência durante esse governo. Some-se a esse aspecto, o número de médicos (perto de 15.000) que assinaram compromissos estúpidos, antiéticos e cedendo aos kits-covid. Os novatos, lamentavelmente são presas fáceis. Mais triste ainda é constatar a presença de colegas com idade avançada e entrando nesse delírio da cloroquina. Mesmo havendo por parte da colega em tela, uma compreensão desse exercício sem o reconhecimento bioético de seus pares, não retirará dela seu ímpeto que a levou ao antipetismo inconsequente. A depender dessa perspectiva que apareceu nas mais de 6h de depoimentos, o conhecimento técnico não lhe retirará das bandeiras conservadoras ao estilo de nossos conselheiros que tanto nos envergonha.

    Um abraço do
    Virgílio

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  6. Franco José

    Concordo em absoluto, existe uma tensão dentro do PT entre maximalistas e outros que percebem que a relação de forças no congresso não permitiu até hoje governar decididamente a esquerda e até teve os percalços do Mensalão e do Petrólao. Esse grupo maximalista foi de resto responsável pela queda de Dilma que chegou a ter 6 por cento de aprovação. Em todo o mundo “democrático” só há a possibilidade de governar no centro esquerda. É aquele passo á frente, o primeiro dos passos de Lenine e temos visto que não conseguimos dar o segundo passo logo temos que recuar sob pressão de golpe efectivo ou sob forma de ameaça… Como estaríamos melhor se Haddad tivesse vencido as eleições de 2018 e estamos assistindo a dois passos atrás mas políticas populares ou de esquerda. Há que ter um pensamento estratégico forte e não ceder a táticas imediatistas que não se enquadram nas perspectivas de longo prazo.

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  7. Geraldo Magalhães

    Não havia possibilidade de alguém em sã consciência votar no Bolsonaro em 2018. Todos com o mínimo de bom senso sabiam de que personalidade e caráter Bolsonaro era feito.
    Eu mesmo fiquei extremamente contrariado de ter votado no Hadad. Votei com a clareza do perigo de ter um Bolsonaro no poder. Votei e fiquei mais p*** ainda quando percebi que de nada adiantou meu sacrifício.
    Vivemos numa era muito obscura e caminhamos à beira do precipício. Não vejo mais saída pra esse país ainda mais vislumbrando novamente um cenário político tão ou mais polarizado que em 2018.
    Salvem-se quem puder.

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  8. Magaly Ezequiel

    Luana só se deu conta do que é o desgoverno Bolsonaro depois de não ter sido aceita na equipe?
    Em que planeta ela estava?

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  9. Tania Lago

    Também acho que há um pequeno segmento de classe média que não votará em Bolsonaro em 22. Mas, sendo médica, concordo com o comentário de Virgílio Almansur. O grupo de WhatsApp de médicos com quem me formei há 40 anos é majoritariamente bolsonarista e quando não professa a crença no kit COVID, reclama do excesso de restrições à mobilidade da população.Frequentar a universidade não os tornou adeptos de valores civilizatórios nem do pensamento científico emancipatório. A manutenção de privilégios de classe é o que os move. Nada mais.

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  10. luiz cruz

    “Em todos os lugares do mundo o eleitorado de renda e escolaridade mais elevadas vota proporcionalmente mais em partidos de direita e os pobres em partidos de esquerda”. Isto não parece ser verdade. Thomas Piketty falando sobre 21 democracias ocidentais em artigo https://wid.world/document/brahmin-left-versus-merchant-right-changing-political-cleavages-in-21-western-democracies-1948-2020-world-inequality-lab-wp-2021-15/ diz o seguinte: “In the 1950s-1960s, the vote for democratic, labor, social democratic, socialist, and affiliated parties was associated with lower-educated and low-income voters. It has gradually become associated with higher-educated voters, giving rise to “multi-elite party systems” in the 2000s-2010s: high-education elites now vote for the “left”, while high-income elites continue to vote for the “right”.

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