O Ministro Gilmar Mendes não falou nada demais. Vem-se afirmando corriqueiramente no Brasil que estamos perpetrando um genocídio de nossa população, em particular dos idosos. O coronavírus já matou o equivalente a um estádio do Maracanã lotado, e caminha para dobrar este número. Não estamos em guerra contra outra nação e nunca morreram tantos brasileiros em tão pouco tempo. Se não há espanto e indignação quanto a isso nada tem a ver com a magnitude da tragédia, e sim com a naturalização das mortes em um país que mata milhares a cada ano por meio de armas de fogo.
Por outro lado, desde 15 de maio o Ministério da Saúde tem como comandante o General Pazuello. Ele é considerado ministro interino apenas de direito, mas jamais de fato. Um ministro interino nunca nomearia 28 militares para sua pasta, ele se limitaria a trabalhar com os gestores civis que já estavam lá antes de sua interinidade. O secretário-executivo do Ministro, o segundo da hierarquia do Ministério, é um coronel que utiliza um broche com uma faca enfiada em uma caveira, algo totalmente contrário a salvar vidas. Desde o dia em que os militares do exército passaram a ocupar o Ministério da Saúde, sem terem mínimos conhecimentos nem em administração pública, nem em saúde, já foram 68 mil mortes, e isso irá aumentar.
Antevejo Lula e o PT dizendo o seguinte na próxima campanha eleitoral presidencial, ou mesmo antes dela: “Bolsonaro fez o absurdo de exigir que os militares assumissem o Ministério da Saúde em plena pandemia do coronavírus, durante a gestão dos militares foram XXX mil mortos, isso foi péssimo para a imagem de uma organização tão importante e respeitada como é o Exército Brasileiro”. Uma declaração com este conteúdo em nada seria ofensiva aos militares, mas prejudicaria muito a sua imagem.
Podemos ir além, não precisa que Lula fale muito menos de campanha eleitoral. O Brasil inteiro já tem ciência de que as mortes são muitas, de que poderemos vir a ser os campeões mundiais em óbitos pela pandemia, e que o Exército será um dos responsáveis. Não importa o que seria se o ministro fosse Mandetta ou Teich, o que importa é o que é e o que será com um ministro intendente, especializado no almoxarifado e na logística.
Gilmar Mendes está coberto de razão, e o Exército poderá voltar a ter razão se retirar Pazuello de um lugar que ele nunca deveria ter estado.
Bora dobrar a meta porquê o voto está acima de tudo e de todos, não é, Alberto?! Impedir um presidente que comete vários crimes de responsabilidade à luz do dia é golpismo!