A última semana tem sido difícil para todos os que fazem sucesso em função das falas inócuas do Presidente Bolsonaro. Existe hoje no Brasil uma legião de jornalistas, colunistas de jornais, blogueiros, tuiteiros e Youtubers que dependem, para existirem e serem lidos e ouvidos, das fantasias motivadas por Bolsonaro em seus pronunciamentos. Em uma passagem que se tornou clássica da literatura mundial, Don Quixote de La Mancha, o personagem principal, é alertado por seu fiel escudeiro, Sancho Pança, de uma confusão que fizera entre gigantes imaginários e moinhos de vento. Crendo atacar gigantes imaginários, Don Quixote é derrubado por uma simples pá de um moinho em movimento. O silêncio de Bolsonaro deste o 7 de Setembro apenas tornou claro o que muitos já sabiam, que esta legião dos dependentes das falas de Bolsonaro insistem em lutar contra moinhos de vento.

É triste ver a indigência analítica de muita gente séria e bem intencionada que acha viável um golpe perpetrado por um Presidente medroso e incapaz de redigir alguns parágrafos de retratação. Os estudiosos de Hitler e do nazismo, de Mussolini e do fascismo ficam escandalizados ao verem que uma figura tão pouco afeita ao trabalho duro, como é Bolsonaro, e incapaz de articular ações e de formar um grupo político possa ser comparado com aqueles chefes de governo na Europa de meados do Século XX, tão perversos como eficientes. Não há dúvida de que Bolsonaro seja perverso, mas trabalhando do jeito que ele trabalha, pouco ou nada, dificilmente pode ser comparado com os reais líderes fascistas que tanto mal causaram ao mundo.

Bolsonaro é um presidente fraco e sem rumo. Ele nunca se envolveu com os grandes temas da política, tampouco imaginou que um dia se tornaria presidente. Resultado, ele não se interessa pelas questões que dizem respeito ao seu cargo, não faz a menor ideia de que rumo dar ao país e, se soubesse, não tem as habilidades necessárias para conduzir o Congresso e o judiciário a imprimir uma determinada direção ao Brasil. Ainda assim suas fantasias fazem parte da obsessão diária de centenas de pessoas corretas que não entendem como funciona a política. É triste constatar tanto gasto de energia, tempo e recursos para enfrentar ilusões, para brigar contra moinhos de vento que deixam de rodar quando não há mais brisa.

A melhoria do país depende não só de que tenhamos um presidente que mereça esta denominação, mas também de pessoas que ocupem a mídia de maneira realista e racional, e que não se deixem iludir por blá-blá-blás sem consequência alguma. O silêncio de Bolsonaro apenas explicitou o quão equivocados estão todos aqueles que o consideram uma ameaça. Estas pessoas, lamento ter de admitir, têm o presidente que merecem. Esse é um dos motivos de nossa tragédia.