Vejo muita gente de esquerda surrando o mantra de que “as instituições não estão funcionando”. Isso acontece por causa de uma confusão. Como o Governo Bolsonaro é de extrema direita, quando são tomadas decisões que seguem esta linha política, aí afirma-se que as instituições não estão funcionando. É preciso ter em mente que as instituições funcionam mesmo quando tomam decisões que vão contra a sua preferência política. No caso de um governo de extrema direita, as instituições não estariam funcionando se ele não conseguisse tomar e implementar decisões de extrema direita, afinal ele foi eleito para isso.

Ainda assim nossas instituições são mais sofisticadas do que isso. Governos podem fazer muita coisa, mas não podem tudo. É justamente o que estamos vendo agora. Na agenda da extrema direita representada por Bolsonaro e Trump a proteção da vida durante a pandemia do coronavírus tem menos relevância do que a defesa da economia. O nosso presidente, a figura mais poderosa do país, não consegue realizar a sua agenda de diminuir a quarentena, reabrir o comércio e adotar outras medidas rumo à normalidade social. Ele não consegue fazer isso apesar de ter sido eleito presidente, justamente porque há instituições que limitam o seu poder.

Vejo pessoas indignadas afirmando que se as instituições realmente estivessem funcionando ele já teria sofrido o impeachment. É interessante tentar pensar justo o inverso: se o impeachment de Bolsonaro já tivesse sido realizado seria uma prova do mau funcionamento das instituições. Impeachment não é um piquenique que você combina com três ou quatro familiares, elabora a refeição, coloca tudo em cestas e vai para o parque fazer. Impeachment é algo monumental, grandioso, é afastar alguém escolhido diretamente pela maioria dos eleitores. Por isso se trata de um processo muito exigente. E aí surge o outro lado do funcionamento das instituições.

Se o objetivo é encontrar respostas rápidas e milagrosas para as crises políticas, então elas jamais serão encontradas nas instituições. Seria preciso lançar mão de poderes mágicos, talvez sobrenaturais, para que problemas complexos e intrincados fossem resolvidos com celeridade e eficiência. As instituições resolvem sim os problemas, mas em um ritmo que dificilmente satisfaz a ansiedade individual deste ou daquele cidadão. Lamento, mas é assim que o mundo funciona.