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Alberto Carlos Almeida

Cientista político, sociólogo e pesquisador

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Os votos da terceira via

por | jul 13, 2021 | Governo | 0 Comentários

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Eleições seguem a lei de Pareto, ou a regra 80/20 ou a exponencial. É comum que 20% dos candidatos tenham 80% dos votos, se não exatamente isto, algo um pouco menor, porém ainda muito elevado ao ponto de permitir afirmar que se trata de uma regularidade do mundo do voto. Em 2006, no primeiro turno, os dois candidatos mais votados tiveram 90% dos votos válidos, em 1988 os dois primeiros concentraram 85% dos votos. A eleição na qual os dois líderes somados se saíram pior foi a de 2002, com apenas 70% dos sufrágios, isso ocorreu porque dois ex-governadores de estado concorreram naquele pleito.

A melhor forma de avaliar a força da terceira via é empírica, considerar o passado. Na eleição de 1994 o terceiro mais votado ficou com 7% dos votos válidos, em 1998 esta proporção foi de 11% e em 2002 foram os 18% de Garotinho, que tinha acabado de sair do governo do Estado do Rio de Janeiro, o terceiro maior colégio eleitoral do Brasil, para tentar a sorte grande rumo ao Palácio do Planalto. Em 2006 o terceiro colocado teve 7% dos votos, 19 e 21% em 2010 e 2014, respectivamente, e na eleição mais recente, a de 2018, coube a Ciro a honrosa terceira via com 12% dos votos. Assim, do ponto de vista empírico foi possível notar que as maiores votações de um candidato terceiro colocado gravitaram em torno de 20 pontos percentuais e as menores ficaram pouco acima de 5%.

Os percentuais mais elevados de terceiros colocados foram ambos obtidos por Marina Silva. O fato de ela ter sua origem política em um estado muito pequeno, o Acre, e de em 2010 ter concorrido pelo PV, um partido pouco relevante, indica que um quinto dos eleitores realmente não estava satisfeito com as opções oferecidas por PT e PSDB, Dilma nas duas eleições, José Serra e Aécio Neves. Essa insatisfação com os dois partidos mais votados desde 1994 acabou resultando na vitória de Bolsonaro quatro anos mais tarde. A pergunta que vale um milhão é se em 2022 esses possíveis 20% irão se concentrar em um só candidato que tenha o perfil de terceira via, e se isso ocorrer quais serão suas chances de se tornar o segundo colocado e ir para o turno final.

O ponto de partida é admitir que Bolsonaro e Lula são a primeira e segunda via, não necessariamente nesta ordem. Bolsonaro é o atual presidente e por isso pauta a mídia de forma contínua. Lula é o ex-presidente conhecido de todo o eleitorado e que saiu bem avaliado de seus oito anos de governo. Os candidatos postos e mais prováveis serão Ciro Gomes, o homem dos 12%, Doria pelo PSDB e Rodrigo Pacheco pelo PSD. O primeiro tem o Ceará como sua principal base eleitoral e o Nordeste como uma base secundária. Doria, caso derrote Eduardo Leite nas prévias de seu partido, disputará a eleição nacional como ex-governador do maior estado do Brasil. Rodrigo Pacheco vem do segundo maior colégio eleitoral, com em torno de 11% dos eleitores do país. Cada qual tem seu ativo regional e eles não se superpõem, isso contribui para levar à fragmentação dos votos.

Os três têm em comum o fato de serem candidatos insossos diante de Bolsonaro e Lula. Talvez Ciro tenha mais sal que os demais, todavia para isso recorre ao destempero e a ataques contra tudo e contra todos. Não se sabe ao certo se esta estratégia mais ajuda ou mais atrapalha, há quem considere que com Lula na disputa Ciro dificilmente terá a mesma fatia de votos que já desfrutou no Ceará e no Nordeste. Doria tem amarrado em um de seus tornozelos um peso denominado de Bolsodoria. Foi assim que ele fez a campanha de 2018. O seu afastamento em relação a Bolsonaro não o aproximou da esquerda e o tornou muito rejeitado pelo eleitorado mais conservador, uma característica importante do interior de São Paulo. Além disso, a imagem de Doria fora de São Paulo é de um bom garoto vestido com roupas de estilo pouco familiar ao brasileiro médio.

Dos três, a maior novidade será Rodrigo Pacheco. Isso é bom e ruim. Bom porque terá a chance de formar sua imagem nacional praticamente do zero, ruim porque ser conhecido é uma barreira monumental para a disputa presidencial, que o diga seu conterrâneo Aécio Neves em 2014. Aécio entrou em uma disputa presidencial tendo sido eleito duas vezes governador de Minas Gerais e uma vez senador, mesmo assim ele sofreu para ver sua intenção de voto aumentar, o que aconteceu apenas nos últimos dias do primeiro turno. Se foi difícil para Aécio nestas circunstâncias o que dizer então do desafio que Pacheco terá de enfrentar diante de Bolsonaro e Doria?

O fato é que existem, a princípio, 20% de votos disponíveis para uma terceira via. Aprendemos isso com duas votações de Marina e uma de Garotinho. Sabe-se também, é sempre bom lembrar, que esse foi o percentual máximo, houve ocasiões nas quais a terceira via ficou com menos de 10% dos votos. Em 2002, para que ela consiga ir ao segundo turno precisará concentrar a votação em uma disputa entre três candidatos que, aparentemente, são assemelhados. Ninguém tem bola de cristal e por isso surgirão todo tipo de análise. A rigor, nenhuma delas será capaz de mostrar com dados que a terceira via irá para o segundo turno e com quantos votos.


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