Brasil acima de tudo, Deus acima de todos. Quem desejava o Brasil acima de tudo, ou pelo menos acima de algumas nações, deveria imaginar que desenvolver uma vacina nacional poderia se tornar uma importante moeda de troca na diplomacia e no comércio internacional durante uma pandemia. China e Índia vislumbraram isso.
Acordos comerciais de exportação de vacinas e insumos para sua fabricação envolvem intrincadas negociações diplomáticas que vão além da esfera de influência da lei da oferta e da procura. É por isso que hoje a China pode negociar a vacinação da população brasileira em troca da adoção do 5G por nosso país e também motiva a Índia a não exportar para o Brasil os insumos da Coronavac porque o Brasil se alinhou contra a Índia na quebra de patentes de medicamentos na Organização Mundial do Comércio.
O Brasil tem massa crítica suficiente para ter desenvolvido sua própria vacina. Temos centenas de cientistas de ponta em universidades e empresas, todos eles conectados nacional e internacionalmente, absolutamente capazes de, por caminhos próprios, obter um imunizante para o coronavírus. Bastaria que tivéssemos tido recursos para a fase 3 de testes, a mais cara, a fim obter a vacina brasileira. Orgulho nacional e ufanismo à parte, ter uma vacina genuinamente brasileira nos ajudaria a barganhar com nossos vizinhos, Argentina e México em particular, inúmeras condições favoráveis em diversas negociações comerciais. Políticos que têm a vocação para a política sabem disso. Não é o caso de Bolsonaro.
Não ter desenvolvido a nossa vacina é resultado não apenas do negacionismo de um presidente que rejeita a ciência, mas acima de tudo de um político que não sabe para onde levar o país e que não faz a menor ideia do que seja poder de barganha, como obtê-lo e utilizá-lo no palco internacional. Para colocar o Brasil acima de tudo não basta vontade, é preciso capacidade. Não sendo isso possível cabe recorrer apenas a Deus, acima de todos.
O problema é que mesmo assim poderíamos estar na mão de chineses e indianos, pois estes são os maiores produtores de insumos para a indústria Farmaceutica. O maior problema nosso é essa “diplomacia” (entre aspas mesmo), nossos governantes e filhos que não sabem a hora de abrir e fechar suas bocas!