A sofisticação dos movimentos políticos e das declarações públicas de Mandetta contrastam fortemente com a infantilidade do que faz e fala Bolsonaro.

Enquanto o Presidente da República concede declarações pueris sobre utilizar a caneta para demitir, faz balão de ensaio divulgando a demissão de seu Ministro da Saúde, reúne-se com o possível substituto Osmar Terra, Mandetta se articula com os presidentes das duas casas legislativas, Rodrigo Maia e Alcolumbre, obtém de Gilmar Mendes uma declaração contundente na qual o Ministro do Supremo fala em nome de todos os seus pares e concede uma entrevista coletiva irretocável, na qual até mesmo o Mito da Caverna de Platão é citado. Fica evidente que um deles é o adulto na política.

Mandetta, ao contrário de Bolsonaro, pensa na frente e usa a ciência para tentar prever o que ocorrerá. Na sua entrevista coletiva ele aparentemente recuou ao dizer que a quarentena poderia ser relaxada nas regiões com boa oferta de UTIs. Uma coisa é falar, outra bem diferente é fazer. Mandetta falou isso, mas dificilmente o fará. E ele só precisa esperar uma semana. Como o Ministro da Saúde trabalha com previsões científicas, acredita nelas, ele sabe que em uma semana o número de mortes terá subido muito. A partir daí Bolsonaro jamais falará novamente em demiti-lo.

O que Mandetta fez, como bom jogador de xadrez, foi ganhar tempo. Caberá ao jogador de damas ficar sem fazer nada, apenas olhando o tempo passar.