O líder populista busca se relacionar diretamente com o eleitor. Foi o que Bolsonaro fez no dia dos namorados em seu passeio por São Paulo. O Presidente não tem partido já faz tempo, essa instituição crucial da democracia liberal. No passeio de moto não se viu sequer uma bandeira de partido político, compreensível já que Bolsonaro se relaciona sem intermediação de instituições diretamente com seus apoiadores. Ora, ora, mesmo ele não estando filiado a nenhuma agremiação, poderia haver algum partido que o apoia no Congresso, como o PSL, o PSDB ou no Novo, que estivesse representado no ato.
Nós brasileiros gostamos de elogiar os países desenvolvidos e falar mal de nosso próprio país. Pois bem, algo elogiável na Europa e nos Estados Unidos é a solidez e longevidade da maioria de seus partidos. O desenvolvimento tecnológico, a ciência e a inovação já tornou obsoletas muitas leis e instituições, mas nada foi colocado no lugar dos partidos políticos. É por meio deles que os interesses da sociedade são organizados e levados para dentro do governo sob forma de políticas públicas. Não é mera coincidência o fato de Bolsonaro não ter partido político nem o de seu governo ter rumo algum.
A primeira via para 2022 é Bolsonaro, uma figura anti-partido e, portanto, contrário à instituição mais relevante da democracia representativa. A segunda via é Lula. Aliás, ele governou o país por oito anos e ninguém é capaz de mencionar uma manifestação apenas que não tenha sido intermediada por instituições. Ou Lula se manifestou como Presidente em eventos oficiais do governo e, portanto, organizados pela Presidência da República, ou Lula foi às ruas como candidato em manifestações claramente partidárias. Bolsonaro não fez nem uma coisa nem outra em 12 de junho.
O espaço está aberto para a terceira via. Cabe a ela, se tiver força política e eleitoral, convocar manifestações no estilo populista, de relação direta entre o líder e os indivíduos, ou pelo caminho institucional, lançando de um partido político sólido, com uma marca clara, que seja capaz de levar as pessoas às ruas. Enquanto isso não ocorre caberá ao país escolher entre se distanciar dos países desenvolvidos seguindo a trilha do populismo ou se aproximar deles fortalecendo os partidos políticos. Por fim, cabe lembrar que a única proximidade de Lula com as motocicletas, além de posar para fotos, foi a de possibilitar ao brasileiro pobre do Nordeste trocar o jegue por elas como meio de transporte.
Sou nordestino e fico indignado com essa visão higienista e preconceituosa da nossa região ao dizer que aqui as pessoas andam de jegue ao lado. Tenho 34 anos e nasci e me criei no interior e nunca vi ninguém andando em jegue em toda minha vida. Seria o “jegue” a bicicleta e hoje a moto? Isso tá no imaginário do sudestino por causa das novelas da globo.
O racismo, assim definido na legislação também como sendo regional, se expressa na maioria das falas desses sujeitos que olham pro nordeste estereótipo assim como o ocidental olha pra África como se fosse uma coisa única.
Você é jovem demais, por isso mão viu.