Há sinais de que Bolsonaro possa vir a fortalecer o Programa Bolsa-Família (PBF) assim como mudar o seu nome para Renda Brasil. Se isso realmente for realizado, ficará marcado como sendo mais uma diferença importante entre o Presidente da República e o PSDB. A comparação entre ambos é necessária porque o eleitorado que levou Bolsonaro para o segundo turno e o elegeu presidente é o mesmo que votou nos candidatos do PSDB em 2006, 2010 e 2014. O eleitorado tucano foi inteiramente transplantado para Bolsonaro em 2018 e isso está claro em meu livro O voto do brasileiro.
Na campanha de 2018 e até mesmo antes dela Bolsonaro fez algo que o PSDB apenas ensaiara quando Serra enfrentou Dilma em 2010, utilizou-se de todas as armas da guerra cultural conservadora, como os discursos da ameaça comunista, da venezuelização do Brasil, os estigmas associados à descriminalização do aborto, consumo de drogas e ao casamento de pessoas do mesmo sexo. Fazendo assim ele foi capaz de mobilizar os sentimentos do eleitorado conservador, que defende a manutenção dos valores vigentes como caminho para manter a sociedade unida e funcionando de maneira adequada. Trata-se, em geral, de pessoas com renda mais elevada.
Agora durante a crise da pandemia Bolsonaro começa a ensaiar, em função da experiência exitosa que está tendo com o auxílio emergencial, aumentar os recursos disponíveis para o PBF. O auxílio emergencial explica parte da avaliação ótimo/bom de seu governo. Esse é um sinal que qualquer presidente diretamente eleito jamais iria desconsiderar. Sinal de que se os recursos direcionados para os mais pobres aumentarem, a sua avaliação positiva também poderá permanecer elevada. Enquanto o PSDB sempre falou na porta de saída para o Bolsa-Família, Boslonaro parece querer ver mais gente entrando no Programa.
Bolsonaro tem como objetivo manter junto de si o eleitorado conservador utilizando a sua ideologia, e quer trazer para o seu balaio de votos o eleitorado pobre por meio de seu bolso. Será preciso um grande esforço do Presidente para que aqueles que sempre confiaram seu voto ao PT passem a votar na extrema-direita. Bolsonaro não apenas precisará gastar muito com estes eleitores, mas terá de ser persistente na utilização de uma linguagem que o acolha. Não se sabe o que será possível alcançar, tudo dependerá da capacidade do governo de aumentar seus gastos.
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