As condições para o afastamento de um presidente da república são muito difíceis e raras. No caso de Bolsonaro, estamos bastante distantes de circunstâncias que tornem possível seu impeachment ou qualquer outro caminho institucional de redução de seu mandato. Assim, por ora, é possível nos darmos ao luxo de refletir aqui se afastá-lo por uma via não-eleitoral é ou não recomendável.
Sabemos que as ações irresponsáveis de Bolsonaro diante da pandemia do coronavírus e de tragédia humana resultante é o que mais motiva agora pensar em seu impeachment. Deixemos guardado este raciocínio por um instante, para refletirmos um pouco sobre as desvantagens de retirar Bolsonaro da presidência por outro caminho que não seja o voto.
O impeachment de Bolsonaro, sem que antes ele se torne amplamente execrado pela opinião pública, pode vir a ter consequências tão ou mais nefastas do que as mortes desnecessárias proporcionadas por suas escolhas anti-científicas. Fora do poder, ele e seus seguidores ideológicos do “gabinete do ódio”, assim como os financiadores desta aventura, poderão manter uma grande proporção da sociedade mobilizada pelo discurso da “anti-política”. Esse discurso, que agora está perdendo protagonismo, uma vez que os governantes políticos são os que melhor estão procedendo para combater a pandemia, pode ressurgir com mais força.
Somado a ele teríamos a vitimização de Bolsonaro. Hoje todos são vítimas de Bolsonaro: a sociedade, os cientistas, os médicos, os idosos, e muitos outros grupos sociais. Em caso de impeachment ele mobilizaria suas redes sociais e venderia inúmeros argumentos para se vitimizar. Se hoje há uma esperança para todos aqueles que acreditam no bom senso de que Bolsonaro pode passar a ser mais rejeitado, e que sua avaliação negativa poderá ser cristalizada, no caso de afastamento seria dada para ele uma oportunidade de ouro para reverter esse desgaste.
As consequências disto poderiam ser profundas e de longo prazo. Ele, Bolsonaro, poderia vir se tornar o principal líder do eleitorado de direita por um período muito longo, mais extenso do que um ou dois mandatos presidenciais. Se isso ocorrer, a quantidade de mortos pelo coronavírus pode se tornar motivo daquela nostalgia que nos faz afirmar que “eu era feliz e não sabia”. A política é um jogo contínuo e sem data para terminar. As consequências do que fazemos hoje podem ser catastróficas por muito tempo.
Por fim, vale lembrar que Bolsonaro continua sendo amplamente apoiado pela opinião pública. Ele efetivamente representa a forma de pensar (ou de “não pensar”, se preferir) de um grande segmento da sociedade brasileira. Infelizmente temos de admitir que muita gente no Brasil é negligente em relação aos riscos de contágio pelo coronavírus. Essas pessoas cultivam a visão do “não vai acontecer comigo”, ou ainda, aquela forma de pensar fatalista, que diz que “se morreu, é porque tinha chegado a hora dele”. Bolsonaro representa isso, pois, lembre-se, isso é anti-científico.
Na democracia a maneira correta e mais adequada de afastar alguém do poder é pelo voto. Para o bem do Brasil, e pensando não apenas no curtíssimo prazo, talvez seja melhor que Bolsonaro dispute sua reeleição em 2022. Pode ser que a maioria deseje que ele fique por outros quatro anos. Mas pode ser que isso não aconteça. Se for este o caso, Bolsonaro terá sido retirado da presidência de maneira sólida e transparente pelas mesmas pessoas que lhe elegeram quatro anos antes. Feito isto, o Brasil terá subido um degrau importante na escalada democrática.
Sou totalmente contra o impeachment, o povo precisa aprender a dar valor ao voto e as suas consequências.
Votaram neste lixo que nunca fez nada pelo país, sempre se mostrou incapaz, preconceituoso, arrogante, etc.
Agora aguentem até o fim do mandato, com desemprego, com mortes e delírios diários deste lunático.
Concordo com você
E tem mais… se Mourão assumir com um discurso moderado, mesmo que a prática não o seja , sua popularidade pode ir lá em cima. É só ver o que está acontecendo com o Mandetta. E eu acho extremamente perigoso um militar como Mourão no poder com popularidade alta .
E a destruição das instituições republicanas? Isso não deveria entrar no seu cálculo político? Os efeitos, a longo prazo, da destruição das instituições republicanas não deveriam ser levadas em conta?
É muito dura e triste a decisão de apoiar que Bolsonaro fique no poder até 2022. Entretanto será a forma mais contundente e moral de fortalecer nossa democracia. Impeachment não pode servir de remédio político. Resistir tem sido uma tarefa difícil, mas pode nos tornar fortes para 2022.
Eu prefiro o aprendizado democrático. Que ele fique até 2022