Desde que Bolsonaro se compôs com o Centrão ninguém mais fala nem de Frente Ampla nem de Direitos Já. Na política há todo tipo de movimento e todos são, a princípio, válidos. Há movimentos propositivos, que desejam implementar algo. Mas há também aqueles que buscam fazer algum tipo de enfrentamento. Neste caso, eles só existem enquanto há o inimigo. Lembra muito um dos maiores poemas do ocidente, À espera dos bárbaros do poeta grego Constantino Kaváfis.
Kaváfis revela a natureza tribal dos seres humanos e desnuda a necessidade do outro para que exista o eu, e vice-versa. Os romanos só existem porque há os bárbaros, sem bárbaros, portanto, não há romanos. Sem o Bolsonaro ameaçador, vociferante em suas falas que supostamente colocavam a democracia em risco não há porque participar de movimentos que se oponham a isso. Sem o bárbaro e incivilizado Bolsonaro, não há as centenas de romanos dos inúmeros abaixo-assinados.
Sempre achei Bolsonaro uma figura mais próxima de Brancaleone com seu exército de saras winters. Ele foi facilmente apertado pelo Congresso, Supremo Tribunal Federal (STF) e outras instâncias de poder, bastou que seu governo fosse vítima de uma primeira crise. Na realidade, quem veio assegurar já nossos direitos foram tais instituições. Elas inclusive agiram com grande rapidez: antes de completar o segundo ano de seu mandato a chapa que o elegeu pode ser cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral, ele pode ser afastado para ser processado por crime comum ou até mesmo sofrer impeachment.
Diante destes possíveis destinos falou mais alto o instinto de sobrevivência. Bolsonaro deixou de ir às ruas apoiar manifestações anti-democráticas, tais manifestações deixaram de ocorrer, seus líderes foram processados e Bolsonaro não os defendeu, o Centrão entrou de corpo e alma no governo, vice-líderes que atacavam o STF foram substituídos, e depois disso tudo ninguém mais fala nem em Frente Ampla nem em Direitos Já. Os bárbaros não vieram.
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