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Alberto Carlos Almeida

Cientista político, sociólogo e pesquisador

Alberto Carlos Almeida

Cientista político, sociólogo e pesquisador

O anti-petismo é branco, tem renda alta e habita Sudeste e Sul

por | jul 16, 2020 | Opinião Pública | 6 Comentários

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Pesquisa do Ibope de outubro de 2019 revela que 49% daqueles que residem no Sudeste e no Sul não votariam de jeito nenhum no PT, esta proporção é de 59% para quem recebe acima de cinco salários mínimos (SM) e de 53% junto às pessoas de cor branca. Nos grupos de WhatsApp dos quais participo o argumento de que o PT será inexoravelmente derrotado na próxima eleição presidencial é escrito, na grande maioria das vezes, por pessoas com este perfil. Trata-se de um bolha social.

Há, todavia, outra bolha: a dos moradores do Nordeste, que ganham até um SM e de cor preta e parda. Não participo de nenhum grupo de Zap no qual a maioria das pessoas tenha este perfil, mas se assim o fizesse a rejeição ao PT seria pequena e ninguém seria capaz de prever uma derrota certa do candidato a presidente do partido em 2022.

Cada um de nós vive em uma câmara de eco ideológica, uma câmara relativamente fechada. O que falamos ecoa e retorna a nossos ouvidos. Os evangélicos se relacionam mais com evangélicos, quem reside no Sul se relaciona mais com seus vizinhos, quem é petista fala mais com petistas e assim por diante. Isso serve para todos os perfis sociais e econômicos, e também para a visão de mundo de cada um.

Indivíduos não têm meios de escapar de sua bolha social ou câmara de eco, mas instituições partidárias, quando grandes, necessariamente têm os meios para compreenderem todo o país. O PT é o partido com mais Deputados Federais e todos eles conversam não apenas com seus eleitores, mas com representantes e representados de direita e de centro. Há uma visão consolidada do que seja o Brasil, eles detectam o ati-petismo e também o petismo, sabem onde há indiferença em relação ao partido. As decisões tomadas em âmbito institucional, ao contrário das decisões realizadas por indivíduos, incorporam um saber coletivo e informações trazidas por todos os participantes da instituição. É por isso que os indivíduos brancos, de renda alta e do Sudeste e Sul não compreendem o PT.

Para um partido político importa sim como pensa cada câmara de eco, mas o que é mais relevante mesmo é a escolha do conjunto dos eleitores. Um partido como o PT, quando pensa na eleição presidencial, tem como objetivo a busca da maioria, e ela não está nesta ou naquela bolha.

PS: agradeço a sugestão do artigo a @garridotiago


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6 Comentários

  1. LUIZ HENRIQUE SOARES

    O problema é muito mais complexo do que o “antipetismo”. E muito mais antigo, as redes sociais apenas evidenciam as bolhas sociais que sempre existiram. Ou alguém achava que em SP os malufistas dos anos 1990 e seus familiares, todos ferrenhos antipetistas e partidários do que hoje chamamos de “bolsonarismo”, simplesmente se converteram à social-democracia? A própria história do país tenta misturar água e óleo. 1964 foi uma ditadura segundo a imprensa, mas todos são cheios de dedos quando falam dos militares e de seu papel político, permitindo, ao longo de décadas, ordens do dia que saúdam a “revolução”. O mesmo do ponto de vista econômico-social. Não há um Brasil, há vários: para alguns o único contato com o Estado é na hora de pagar o imposto de renda. Têm carros, moram em condomínios, têm convênio médico e seus filhos estudam em escolas particulares. Para outros, a creche municipal é essencial, se ficam doentes têm de recorrer ao SUS, a casa fica sempre longe e o transporte é público. Outros ainda vivem num limbo, têm carro e casa própria na periferia, mas não têm carteira assinada e desprezam a Previdência porque ela não existe para eles. É impossível satisfazer todos, e olha que PT tentou com seus bolsa-família e bolsa-empresário. Mas são excludentes. Melhorar o SUS e a escola pública significa deixar de investir, por exemplo, em financiamento de alunos em faculdades particulares. Não há dinheiro para as duas coisas, a conta não fecha.

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    • Alberto Carlos de Almeida

      Exatamente!

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  2. Antonio Fernando

    Alberto, existe um grupo de pessoas que apresentam forte rejeição ao PT mas que não ligam necessariamente para questões como corrupção, lava jato, ideologia, preferência política e etc. Falo das pessoas que foram afetadas pelo governo Dilma. Foram afetadas por desemprego, por inflação de alimentos, pelo crédito fácil e etc. É um público que não está interessado no dia a dia da política, querem é o rango na mesa para a família. Vi de perto vários amigos meus perderem seus empregos. Vi alguns conhecidos perderem seus negócios. Tudo isso naquele período entre 2014 e 2016. E Dilma é indicação de Lula, não podemos nos esquecer. Tudo bem que não dá para pegar o grupo de pessoas que conheço e usá-lo como um padrão. Mas é sim um indicativo e corroborado pelos números da época, foram 14 milhões de desempregados. Não domino esses números, não tenho o conhecimento de quem estuda a política. Mas é uma opinião de quem está em contato constante com pessoas que sentiram decepcionadas com o PT e pelas causas que apontei.Votei no PT várias vezes e me senti muito desconfortável com os rumos que o partido tomou. Há o pensamento de bolha mas também há uma decepção legítima com o partido e talvez fizesse bem ao PT reconhecer alguns de seus erros.

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    • Alberto Carlos de Almeida

      Perfeita a sua observação

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  3. volmer silva do rêgo

    Penso que existe uma enorme distorção nos comentários aqui apontados e que refletem , ora a opinião pessoal – portanto, dentro de bolhas menores, ora o do resultado de pesquisas (bolhas, estatisticamente maiores).

    Explico: só é capaz de emitir opinião (aquela doxa platônica) com proximidade científica, ou baseada na metodologia destas aqueles que tem certo grau instrucional, lê, analisa, acompanha, interpreta atos dos partidos, do poderes, o movimento da economia e faz leitura psicossocial da resultante deste caldo.

    Embora partidos (grandes, pelo menos) saibam ou tenham acesso às informações cruciais que determinem o rumo de suas ações, conversem entre si e façam tais estudos, o país independe deles e no mais das vezes das marchas e contra-marchas do povo, da sociedade que se indispõe de um lado e de outro com tal ou qual atitude dos governantes, dos mais próximos, dos seguintes e dos lá de cima (município, estado e união, pela ordem) – aí entram os manipuladores, das informações, do poder de gerar fatos, ou factóides que podem ou não terem ampliadas as suas potências dentro da ecografia gerada em tais bolhas, bem como serem reduzidas por inclinação contrária.

    O que move estas forças políticas, de fato (as elites) os que detém o poder e impedem a maioria dele participar, creio, é o que gera é dá o caráter, o significado, o vai e vem dos humores sociais.

    Por isso a exigência urgente de um conteúdo programático que seja capaz de reunir bancadas e eleitores em torno de ideias que signifiquem a verdadeira vontade de mudança, de progressão e desenvolvimento de bases conceituais, como justiça social, estado de direito, liberdades democráticas e suas correlações práticas: Educação, Saúde, Meio ambiente, Segurança, Trabalho, Infraestrutura, Economia etc… Sem falar na supraestrutura e nas ideias de nação, soberania, independência etc, que fazem a delícia de muitos esquerdistas, burocratas e “linguiceiros” plantonistas, sem, claro, negar o fundo de verdade que ali existe.

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  4. Edson Roberto

    “O anti-petismo é branco, tem renda alta e habita Sudeste e Sul”, não é só isso não.
    O petismo – adeptos, militantes e, principalmente, sua classe dirigente, É BRANCA, CLASSE MELDA, HABITA O SUDESTE E O SUL, E NÃO TEM A MENOR NOÇÃO DO QUE FIZERAM AO BRASIL EM SUA GESTÃO PLENA DE ACORDO COM AS ELITES – POLITICAS E ECONÔMICAS -, PLENA DE CORRUPÇÃO, PLENA DE MIGALHAS LANÇADAS À MAIORIA DA POPULAÇÃO, NEGRA DE TÃO NEGRA E NEGRA DE TÃO POBRE, PLENA DA FALTA DE AUTOCRÍTICA.

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