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Alberto Carlos Almeida

Cientista político, sociólogo e pesquisador

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Impeachment: a voz do povo não é a voz de Deus

por | maio 1, 2020 | Opinião Pública | 1 Comentário

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O Datafolha perguntou para o todo o eleitorado brasileiro se ele era contra ou a favor o afastamento de Collor, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro. Estas pesquisas foram feitas nos momentos de crise, quando o impeachment de Collor, Lula, Dilma e Bolsonaro se tornou um assunto frequente junto à elite política, e no caso de Temer, na época que seu afastamento para ser processado pela corte mais alta do país estava para ser votado na Câmara.

Temer foi o campeão: 81% eram a favor de seu afastamento pela Câmara. No caso de Collor 75% eram a favor de seu impeachment, em Dilma os favoráveis a seu afastamento foram 65% e no caso de Bolsonaro agora esta proporção é de 45%. Temer – o campeão da rejeição popular neste quesito – não foi afastado, a Câmara rejeitou por duas vezes esta possibilidade. Lula também não foi afastado, para ele o Datafolha mostrou que uma minoria de 29% queriam que seu governo terminasse antes da data constitucional e uma maioria de 63% queriam que Lula fosse até o final de seu mandato.

Sou contra a ideia de que as pesquisas de opinião devam guiar a decisão dos legisladores acerca do afastamento de presidentes. Ao que parece os políticos concordam comigo, uma vez que não afastaram Temer. Se a opinião pública dispensasse a decisão das elites políticas, não haveria impostos e os serviços públicos seriam os melhores possíveis: é isso que o povo quer. Elites políticas responsáveis tomam decisões que muitas vezes são contrárias aos resultados de pesquisas, porque sabem que elas têm consequências de longo prazo ao passo que a opinião pública pensa apenas no curtíssimo prazo.

Collor e Dilma poderiam ter evitado seus afastamentos. A lição foi dada tardiamente por Michel Temer: a voz do povo não é a voz de Deus quando este é o assunto, a voz de Deus na verdade é a voz dos deputados. Uma boa relação do presidente com a Câmara e o Senado, traduzida em distribuição de cargos que mexam com recursos discricionários, e também na consulta a senadores e deputados antes que sejam tomadas decisões importantes, é suficiente para que o impeachment seja evitado mesmo que ele tenha uma avassaladora aprovação popular.

É compreensível que os defensores contumazes de impeachments recorram às pesquisas, citem-nas, a fim de atingir seus objetivos. Lamento apenas que isso tenha sido feito com Dilma, algo equivalente tenha sido tentando com Temer e agora esteja sendo debatido acerca de Bolsonaro. É uma completa vulgarização da deposição do presidente. No andar da carruagem, em breve, caberá perguntar se faz sentido mantermos o sistema de governo presidencialista.


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1 Comentário

  1. Ed Wilson

    Prefiro o parlamentarismo.

    Responder

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