Há um espanto generalizado em relação ao percentual de ótimo e bom de Bolsonaro na primeira pesquisa do Datafolha após a eclosão da crise do coronavírus. Algumas frases emblemáticas quanto a isso são: “como pode, depois de tudo isso a avaliação dele não cair?”, “a pesquisa só pode estar errada, é claro que a avaliação caiu muito”, “veja que povo horrível há no Brasil, apesar disso tudo continuam avaliando bem o presidente”.
Opinião pública é ciência. Trata-se de uma disciplina acadêmica que mobiliza no mundo milhares de especialistas e centenas de departamentos universitários, grupos de pesquisa, redes e bases de dados online. Assim, vale saber o que ela tem a dizer sobre a popularidade de Bolsonaro neste momento.
A primeira coisa importante que a ciência da opinião pública nos ensina é reconhecer que as mudanças de opinião raramente são abruptas. No caso do Brasil, uma pesquisa nacional mede o que pensa 115 milhões de pessoas, foi o comparecimento eleitoral do segundo turno de 2018. Não se pode perder de vista que uma mudança de 1% deste universo representa mais de um milhão de eleitores, isso é imenso, não ocorre de uma hora para outra.
O segundo ensinamento desta ciência é que há um piso para a piora da avaliação de um governo, nunca o ótimo e bom será de zero porcento. No caso do Brasil, de Collor até hoje, foram poucas as pesquisas que indicaram uma avaliação positiva abaixo de 10%. Isso indica que por pior que seja o Governo Bolsonaro, ele ainda manterá ao menos esta proporção de ótimo e bom.
A terceira lição deriva do fato de que a avaliação positiva de um governo é motivada por diversas razões, dentre as quais os símbolos que ele mobiliza e agradam a seus eleitores. Assim, pessoas que avaliam negativamente a atuação de Bolsonaro especificamente quanto ao coronavírus, podem avaliar seu governo de forma positiva em função do que ele representa, dos símbolos que ele mobiliza. A sociedade é plural, nuca haverá somente opositores ou somente apoiadores de Bolsonaro.
Por fim, é preciso reconhecer que em todos os lugares do mundo as avaliações de seus presidentes e primeiros-ministros melhoraram, somente no Brasil ela permaneceu a mesma ou piorou um pouco. Para bom entendedor meia palavra basta. Todo líder de um país tem a tendência de melhorar sua avaliação em momentos de crise aguda, esse é o padrão, pois ele une seu país no esforço de atacar as razões da crise. Isso não ocorreu no Brasil. Portanto, a manutenção da avaliação positiva de Bolsonaro no mesmo nível de antes da crise pode ser interpretada como uma queda.
Esses fatores estão bem consolidados e estabelecidos por estudos acadêmicos, todos tornados públicos por meio de artigos e livros. Aliás, eu mesmo sou autor de várias publicações sobre opinião pública que ajudam a sua melhor compreensão. É por isso que não me surpreende nem a atual avaliação positiva de Bolsonaro, nem uma eventual queda no futuro próximo.
Eu nem teria pensado nisso. Muito obrigado, professor!
Muito interessante tua análise , mestre ! Isso tem a ver com aquele livro novo que você recomendou ? Acho que é Mercier o nome do autor, certo ? Você pode escrever um artigo sobre ele ?
Abraços
Caramba. O tema da opinião pública tem uma vasta literatura. Isso que listei está espalhado por diversos livros e artigos
Perfeito,sem esqucer que esses símbolos a que o Bolsonarismo apela, são mais fortes no Povão,os Trabalhadores. A Classe Média,ele vai perdendo a cada dia, porque essa,comunga de símbolos vindos de fora,sintoniza-se um tanto,com o imaginário Ocidental,ao qual o “Bozo”, está distante. Apenas namora,platônica mente um EUA imaginário e seus movimentos Fundamentalistas mais fechados e reacionários,coisa de Alt -Right e afins. Sabendo que o Brasil é completamente diferente.
O que eu acho mais impressionante é justamente esse Sr. ter se formado em “Ciências Militares” e ser um negacionista total da Ciência. Não ter estratégia nenhuma. Até eu que sou uma aposentada bobinha, teria me colado na Ciência no meio dessa pandemia e teria feito tudo que mandassem. Se algo desse errado, nem assim eu seria culpada. Num mundo de recessão, o único idiota que quer superávit em troca de corpos é Bozo. Vai ter cadáver em caminhão, a julgar pelo estrago diplomático junto à China do Bananinha e Sinistro da Deseducação.
Muito boa a sua análise professor! No entanto, a avaliação positiva de Dilma caiu vertiginosamente em meados de 2013. O que explica tal fato?
Isso acontece e é raro. Há um choque político forte, são coisas muito únicas. Estão longe de ser a regra.
No gráfico, não está claro. Os percentuais se referem a abril de 2020 e julho de 2019? Pq abril está primeiro e julho depois?