Uma hipótese razoável para o licenciamento de Eduardo Bolsonaro do mandato de deputado federal a fim de passar um período nos Estados Unidos (EUA) é que ele pode vir a ser o candidato apoiado por seu pai na eleição presidencial de 2026. Alguns fatos indicam nessa direção.

O primeiro deles é que Bolsonaro estará legalmente impedido de se candidatar. O segundo é que ele continua sendo uma figura muito forte junto à opinião pública. Condenado ou inocentado, preso ou solto, atacado ou preservado, Bolsonaro é o líder mais importante da direita frente ao eleitorado. Qualquer candidato à eleição presidencial que ele indicar terá grandes chances de ser competitivo e ir para o segundo turno.

O terceiro fato é um traço psicológico e cultural do ex-presidente evidenciado por inúmeras falas, comportamentos e decisões: Bolsonaro não confia em ninguém a não ser em seus familiares. Na política isso conta, em particular nos países presidencialistas nos quais a disputa política e eleitoral é bem mais personalizada do que nos regimes parlamentaristas. Se houver duas opções em tudo parecidas, menos quanto ao parentesco, Bolsonaro irá escolher quem tiver laços consanguímeos com ele.

Um possível dilema tem a ver com as chances de vitória. Há quem diga que Bolsonaro prefere a vitória incerta com um não parente, nesse caso o atual governador de São Paulo, do que uma derrota certa com um de seus filhos. Estimar chances de vitória não é algo fácil e, no caso dos políticos, é um exercício realizado com pouca ou nenhuma cientificidade e muito viés. Considerando-se ainda que políticos têm um ego bastante inflado, é possível supor que Bolsonaro considere que qualquer candidato apoiado por ele irá ao segundo turno. Assim, se ele se vir diante desse dilema, o mais provável é que seu preferido venha a ser um de seus filhos.

Um quarto fato que torna razoável a hipótese da futura candidatura presidencial de Eduardo Bolsonaro é o motivo aparente de seu licenciamento do mandato: nenhum. O deputado Bolsonaro não corre o risco de ser preso, aliás, isso é algo bastante raro quando se trata de políticos. Alguns poucos podem até ser presos, mas não ficam muito tempo encarcerados. O fato é que ele não está no corredor da prisão. Portanto, a saída do Brasil e a estadia nos EUA é mais compreensível se aceitarmos que ele fará isso para se aproximar da elite política de direita daquele país, assim como dos empresários que comandam as redes sociais e podem, em alguma medida, influenciar a comunicação política no Brasil.

Diante disso, um cenário básico para 2026 é um segundo turno entre Lula e Eduardo Bolsonaro, com Lula como favorito uma vez que disputará a reeleição. Se Lula vencer, Eduardo se tornará a bola da vez para 2030, supondo-se que a inelegibilidade de seu pai seja estendida, o que pode ocorrer em função do julgamento a ser realizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Nesse caso, o grande perdedor da falta de confiança de Bolsonaro em pessoas que não são de sua família será o governador Tarcísio de Freitas.