fbpx

Alberto Carlos Almeida

Cientista político, sociólogo e pesquisador

Alberto Carlos Almeida

Cientista político, sociólogo e pesquisador

Brasil, um país de golpistas

por | maio 13, 2020 | Análise | 6 Comentários

Compartilhe

A eleição presidencial não vale nada no Brasil, ou vale muito pouco. A julgar pelo comportamento de muita gente envolvida com política, vivemos em um país de golpistas. Logo depois que Dilma foi reeleita em 2014 houve quem defendesse a anulação do resultado eleitoral. Um óbvio golpe do ponto de vista das pessoas que valorizam voto popular. As urnas eletrônicas tinham acabado de serem desligadas, estavam quentes ainda, e sequer haviam todas sido recolhidas às sedes dos Tribunais Regionais Eleitorais, e já se falava em uma petição ao Tribunal Superior Eleitoral para anular o resultado da eleição.

Na impossibilidade de se fazer isso optou-se pelo impeachment. É sempre bom lembrar que o afastamento de Dilma ocorreu em 2016 e a eleição estava prevista para 2018. É curioso que o pouco caso em relação ao resultado das urnas tenha levado a maioria dos atores políticos a não aguardar a possibilidade de retirar o PT do poder pelo voto. Ela foi apeada da presidência com 10% do eleitorado considerando seu governo ótimo e bom. A política fez com que os partidários de Dilma caracterizassem seu impeachment com tendo sido um golpe.

Há quatro anos se fala que Dilma foi vítima de golpe. Também é curioso que muitos que vêem seu afastamento como golpe agora defendam o impeachment de Bolsonaro. Em se tratando dele, não é golpe, mas afastamento legítimo e necessário, em que pese o fato de ele ter avaliação ótima de 15% do eleitorado e boa de pelo menos 10%. Quando não se obtém o poder pelo voto, parece que se busca atingi-lo por outro caminho, que basicamente ignora inteiramente a legitimidade das urnas.

Em 2019 o séquito de bajuladores de Bolsonaro foi enorme. Muitos deles, agora, defendem o impeachment, não querem mais Bolsonaro como presidente. O que teria mudado tanto em tão pouco tempo?

O mais curioso de tudo é a falta de paciência para aguardar as eleições. Aliás, aguardar a voz das urnas não apenas é o ato maior de respeito à vontade popular, mas permite que todos aprendam com seus erros. A elite política precisa sofrer nas mãos de péssimos governantes para que ela entenda que é responsabilidade dela a oferta de bons candidatos ao eleitorado. O eleitorado precisa sofrer nas mãos de maus políticos para que o exercício regular do voto se torne um aprendizado.

O Brasil é maior do que seus presidentes de plantão. O Brasil é uma federação, tem governos estaduais e municipais, tem centenas de instituições públicas e privadas zelando pelo bem-estar da população. Não será um presidente incompetente que destruirá um país tão grande, tão populoso e com tanta vitalidade. O que realmente pode prejudicar nosso querido país é o golpismo generalizado, a busca pelo poder por outro caminho que não seja o voto.


Compartilhe

Leia mais

Bolsonaro sem saída

Bolsonaro sem saída

É muito difícil a situação de Bolsonaro. Estão presentes todos os ingredientes de uma crise de longa duração: avaliação negativa muito intensa, situação da saúde pública, oposição de governadores e prefeitos e, o mais importante, a presença de Lula no jogo. Clique...

Doria e Witzel contra Bolsonaro. Falta Zema mudar de lado

Doria e Witzel contra Bolsonaro. Falta Zema mudar de lado

Na eleição de 1982 para governador a oposição venceu nos três estados mais importantes do Brasil. Franco Montoro venceu em São Paulo e Tancredo Neves conquistou Minas Gerais, ambos do PMDB. Leonel Brizola do PDT venceu no Rio de Janeiro. A trinca de governadores de...

Trump sabe que ele é um personagem, Bolsonaro não

Trump sabe que ele é um personagem, Bolsonaro não

O Trump que aparece em público e que concede entrevistas coletivas e tuíta não é o mesmo Trump que decide em reuniões com secretários e assessores na Casa Branca. Trump é capaz de separar o que ele fala para sua tropa, o que ele comunica a fim de manter juntos seus...

6 Comentários

  1. Mari

    O atual governo está acabando ou tentando acabar com as instituições republicanas…quer transformar esse país num anarcocapitalismo de milicianos…evangélicos e famílias de bem armadas( como bem diz o professor guiraldelli).

    Responder
  2. thiago oliveira

    Agradeço por o senhor dizer as palavras desse texto. Concordo que impeachment é mecanismo legitimo como habeas corpus ou habeas data. O voto não tem peso, assusto com a conversa da mídia.

    Responder
  3. Roberto Blatt

    A situação é emergencial, fora Bolsonaro é questão de saúde pública!

    Responder
  4. Claudio Batista

    Ninguém pode negar que esse governo bocalnaro é fruto de sucessivos golpes. Golpe político, midiático, judiciário e eleitoral. Nem um liberal conservador pode negar essa realidade. Mas se a esquerda aceitou concorrer as eleições, ela o legitimou, é verdade. Entretanto, a esquerda, e qualquer outra agremiação social, tem o direito e o dever de defender as instituições democráticas e os direitos dos cidadãos. Seja contra o autoritarismo ou seja contra os crimes políticos e ou comuns de governo. E caso sejam comprovados devem exigir julgamento justo e a devida punição.

    Responder
  5. Pedro Augusto

    Não tem nada de curioso. No caso da Dilma era debatido se houve ou não crime de responsabilidade. No caso do Bolsonaro não há essa dúvida: ele cometeu vários crimes de responsabilidade à luz do dia! O presidente não está acima da lei. E a execução da lei não precisa de apoio popular. Se há crime de responsabilidade deve executar a lei e iniciar o rito de impeachment! Se o presidente vai ter a maioria na Câmara e Senado é outros 500.

    Responder
  6. Rodolfo Lo Bianco

    Interessante professor. Tratamos a classe política como empregados do setorneio privado. Não está trabalhando direito, demiti-o!
    Mas o sistema é mais complexo que essa vontade individual. Justamente para não facilitar essas nossas “vontades”.

    Responder

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *