Quando se trata de declarações públicas, o mais comum é que políticos enviem mensagens discretas entre eles. ACM Neto decidiu fazer o menos frequente quando afirmou que o seu partido não apoiaria nenhum extremista de direita, mas que poderia apoiar a candidatura à reeleição de Bolsonaro. Impossível ter sido mais claro.
ACM Neto tinha uma longa amizade e cultivava uma colaboração contínua com Rodrigo Maia há, pelo menos, 20 anos. Ele abriu mão disso ao liderar o apoio do DEM à candidatura de Arthur Lira à presidência da Câmara, o que agradou bastante Bolsonaro. Sua declaração de apoio condicional à reeleição do presidente ocorreu logo após esta manobra e dentro deste contexto.
O DEM foi alijado dos recursos de Brasília em 2003 com a posse de Lula em seu primeiro governo. Sabe-se que os políticos querem e precisam ter acesso a cargos, recursos orçamentários e poder de influenciar decisões. O DEM ficou fora disso entre 2003 e 2016, longos 13 anos. O retorno de seus quadros ao centro de poder em Brasília ocorreu de maneira tangencial a partir da breve presidência de Michel Temer. Tangencial porque Temer haveria de privilegiar seu próprio partido, o MDB, maior e mais influente que o DEM, e o PSDB de Aécio Neves, cujo papel foi crucial para o afastamento de Dilma.
A vitória de Bolsonaro não foi boa nem para o DEM nem para o PSDB. Alckmin tinha sido o candidato tucano apoiado pelo partido de Rodrigo Maia e ACM Neto. Por isso, o que sei viu em 2019 foi a migração isolada deste ou daquele político dos dois partidos rumo ao Governo Bolsonaro. Para o pesadelo das agremiações que estiveram no centro do poder no Governo Fernando Henrique, o novo governo significava que mais uma vez viveriam o deserto de cargos e recursos. ACM Neto se cansou disto.
O mais provável é que ACM Neto tenha avaliado que a disputa de 2022 será entre Bolsonaro e um candidato da esquerda, mais especificamente do PT. Somente isso explica sua declaração de amor condicional a Bolsonaro. Condicional, não custa lembrar, porque solicita ao futuro parceiro de aliança que se torne menos extremista. ACM Neto não quer ficar no fim da fila caso Bolsonaro seja reeleito. O que ele fez tem como objetivo, que poderá ou não se alcançado, colocar seu partido mais próximo do núcleo central de poder em uma eventual vitória de Bolsonaro em 2022.
Minha dúvida é se foi uma manobra realizado com o olho no relativamente distante segundo mandato, ou foi apenas o desejo que abocanhar um pequeno quinhão imediato.
Quem conhece o ACM Neto e sabe como anda seu governo pode opinar com mais certeza.
O Brasil deles de volta. Esse era o lema do golpe.