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Alberto Carlos Almeida

Cientista político, sociólogo e pesquisador

Alberto Carlos Almeida

Cientista político, sociólogo e pesquisador

Sem Bolsonaro o Brasil teria evitado milhares de mortes na pandemia. Quantas?

por | jun 26, 2021 | Governo | 1 Comentário

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O debate sobre o número de mortes evitáveis se intensificou no dia em que atingimos 500 mil óbitos. Há pelo menos duas formas de se abordar este tema, uma delas é por meio de modelos estatísticos complexos que se utilizem de diversas variáveis, outra, a que utilizamos aqui, é projetando para o Brasil os coeficientes de mortalidade de outros países. Essa abordagem é pouco teórica e muito prática, baseada na realidade, no que ocorreu e vem acontecendo em outras nações.

Iniciemos pela Argentina, esse charmoso país repleto de europeus que lá aportaram de navio e que nos faz fronteira. O presidente da Argentina é em tudo oposto a Bolsonaro: professor universitário, tem base partidária e social forte, é de esquerda e começou a pandemia tomando medidas inteiramente opostas às adotadas no Brasil. Se Alberto Fernandéz fosse o presidente do Brasil e tivéssemos o mesmo coeficiente de mortalidade de seu país teríamos salvado em torno de 80 mil vidas quando nosso país atingiu a marca de 509 mil mortos. Passemos aos inventores do futebol e aos desenvolvedores da vacina de Oxford.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, foi irresponsável no combate à pandemia até o dia em que ele próprio contraiu a doença e ficou entre a vida e a morte. Isso aconteceu em abril de 2020. Depois disso as suais decisões quanto à Covid mais se assemelharam a de um governante absolutamente sensível ao sofrimento de seus concidadãos. Graças a esta inflexão o Reino Unido passou a ser um dos países líderes na vacinação, além de também ter adotado de forma sistemática todas as medidas que impedem a disseminação do vírus, como lockdown, uso de máscaras e de álcool em gel. Se Boris Johnson tivesse governado o Brasil neste período teríamos salvo 106 mil vidas.

A comparação com os Estados Unidos (EUA) nos ajuda a refletir o que teria acontecido ao Brasil caso nosso ano eleitoral para presidente tivesse sido 2020 e se, assim como eles fizeram, um presidente negacionista e anti-ciência tivesse sido derrotado por alguém responsável e empático diante da vida das pessoas. Aplicando-se ao Brasil o coeficiente de mortalidade dos EUA teríamos salvo 121 mil vidas.

México e Espanha, além de serem latinos e falarem espanhol, têm chefes de governo de esquerda. O do México é considerado populista e o da Espanha pertence a um dos mais antigos e sólidos partidos de esquerda do mundo, o PSOE. Aplicando-se os coeficientes de mortalidade destes dois países teríamos salvado 127 mil vidas se nosso presidente fosse o mexicano AMLO e 141 mil se fosse o espanhol Pedro Sanches.

Argentina, Reino Unido, Estados Unidos, México e Espanha, acreditamos, sintetizam os limites máximo e mínimo do que nós brasileiros seriámos capazes da fazer caso o presidente não fosse Bolsonaro. Estes países são ocidentais, três deles têm cultura ibérica como nós, um é nosso vizinho e o outro pertence a América Latina, um teve um presidente fortemente negacionista e mudou para outro responsável, e por fim, no Reino Unido aconteceu maios ou menos o mesmo que nos EUA, mas sem eleição, bastando para isso que o chefe de governo tivesse ficado a beira da morte. Assim, teríamos salvo no mínimo 80 mil vidas e no máximo 141 mil.

É praticamente certo que com qualquer outro presidente que não fosse Bolsonaro teríamos salvo muitas vidas. Porém, não há só presidente em um país, há também seu povo, a oposição e acontecimentos fortuitos.

Alberto Fernandéz conduziu de forma magistral o início do combate à pandemia na Argentina. Ele liderou um esforço suprapartidário de ação e comunicação reunindo de maneira sistemática nos pronunciamentos à nação o governador da província de Buenos Aires e, o que é mais importante, o prefeito de Buenos Aires, Horácio Larreta, do partido de oposição. A iniciativa resultou no aumento da popularidade do presidente e por isso acabou sendo minada pela oposição. Além disso, as aglomerações realizadas em função da morte de Maradona serviram de argumento para atacar qualquer tipo de lockdown: os comerciantes e empresários afirmaram que aquilo era absurdo uma vez que estavam realizando um grande esforço com prejuízos concretos para a economia. Isso apenas mostra que nas democracias liberais ocidentais não é fácil impor comportamentos únicos a populações numerosas. O que ocorreu na Argentina aconteceu em todos os outros países, cada qual com suas especificidades. O fato é que onde há governo há também oposição.

Mas a despeito das divergências políticas e dos diversos tipos de organização institucional, há países que conseguiram minimizar os efeitos mais dramáticos da pandemia. A própria Índia, que é um país pobre e a segunda nação mais populosa do mundo, tem um coeficiente de mortalidade de 284 óbitos por milhão. Se o Brasil tivesse o mesmo valor teria um montante de 60.492 óbitos, ou seja, 448,6 mil vidas poderiam ter sido salvas.

Mas são países como Tailândia, Nova Zelândia, China e Vietnã que conseguiram colocar em prática as receitas dos livros textos de epidemiologia e implementaram uma boa barreira sanitária, rastrearam as pessoas com possibilidade de contágio, monitoraram os doentes, adotaram medidas de prevenção e higiene, além de garantir uma boa interação entre o Poder Público e a Sociedade Civil. Se o Brasil tivesse conseguido os mesmos coeficientes de mortalidade destes 4 países, teria salvado mais de 500 mil vidas.

Enfim, a tragédia humanitária e sanitária do Brasil poderia ter sido evitada. Precisamos aprender a lição e, urgentemente, colocar em prática um plano de prevenção e imunização para evitar que a mortandade continue. O país precisa colocar um basta no drama da pandemia.

 

 


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1 Comentário

  1. Gabriela Pross

    Você nem precisa dizer que é anti bolsonarista. Vi sua entrevista no Direto ao ponto e seu partidarismo foi escancarado. Shame on you!!!

    Responder

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