É normal que presidentes da república façam movimentos pendulares em relação a temas e questões para os quais não há consenso ou quando não exista a necessidade premente de aprovação. João Goulart nos anos 1960 sobreviveu no cargo enquanto adotou um posicionamento pendular em relação à reforma agrária. Lula passou seus oito anos de governo agradando a sindicalistas e banqueiros, Dilma abandonou esta postura e não sobreviveu. Chegou a vez de Bolsonaro agir em função das dificuldades impostas por nossas instituições.
Bolsonaro foi eleito com o apoio de três direitas – a autoritária, a religiosa e a direita liberal – e demonizou totalmente a direita política para a qual deu o nome de velha política. Com a crise proporcionada pela pandemia e a possibilidade de impeachment o presidente compreendeu que precisava da direita política. Desde então ela vem lentamente tomando conta do governo. O episódio mais recente foi a escolha do competente deputado federal Ricardo Barros para liderar o governo na Câmara.
A entrada da direita política no governo, e seu gradativo fortalecimento, tiveram como contrapartida o enfraquecimento da direita autoritária, muito facilitado pela ação do Supremo Tribunal Federal (STF) ao coibir as saras winters da vida e ao controlar as fake news e o gabinete do ódio, e também o lento enfraquecimento da direita liberal. A saída de Salim Mattar e Paulo Uebel do governo é o sinal mais aparente deste fenômeno, mas não é o primeiro nem o único.
Políticos são gastadores. É normal que seja assim. Alguém eleito deputado federal ou senador é permanentemente pressionado para atender demandas. Dificilmente isso é feito abstendo-se de gastar. Já o presidente da república, em função de ter sua popularidade amarrada ao desempenho da economia, pode ou não gastar mais ou menos a fim de melhorar o bem-estar da população. Há cenários nos quais a abstenção ao gasto premia o Poder Executivo com um crescimento econômico que resulte em sua permanência no poder. Assim, nem sempre o interesse do presidente da república e do Congresso coincidem.
Bolsonaro começou seu mandato convencido de que o liberalismo econômico aplicado ao gasto público daria frutos. Pouco antes de a pandemia ter atingido o Brasil ele foi cobrado pelo frustrante número do crescimento econômico de 2019. Em seguida, as medidas impostas para deter o espalhamento do coronavírus resultaram em aumento de gastos. Trata-se da união da fome com a vontade de comer, e os políticos sabem disso. Hoje Bolsonaro é pressionado a acreditar que só será reeleito caso passe a gastar.
O fato é que esse cenário resulta no movimento pendular que vemos. Bolsonaro mostra pelo Twitter que está sim muito interessado no Renda Brasil. Ele acredita que a sua reeleição em 2022 depende disso. Por outro lado, ele se reúne com os presidentes das casas legislativas, tendo como ambiente o belo cenário do Palácio do Alvorada, para reforçar o seu compromisso com o teto de gastos. Eis aí o dilema: ser ou não ser liberal na economia? Se fosse fácil já estaria resolvido.
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