A demora de Bolsonaro em demitir Mandetta revela o quão difícil é a tarefa. A contagem do tempo para a demissão do Ministro da Saúde não vem dos últimos dias, mas sim das últimas duas semanas. A política pública adotada pelo ministério bate de frente com aquela defendida pelo Presidente da República. Por isso, quando se pensa na demissão de Mandetta é inevitável pensar também que seu sucessor tenha de ser alguém que ficará inteiramente alinhado com Bolsonaro.
É provável que 95% dos médicos tenham votado em Bolsonaro em 2018. É igualmente provável que ele tenha perdido o apoio e a simpatia de todos eles. São os médicos e os profissionais da área da saúde que tocam o Sistema Único de Saúde (SUS), é este mesmo SUS que orienta as ações do Ministro da Saúde, de estados e municípios no que diz respeito ao combate do coronavírus. Imagine-se então que o eventual sucessor de Mandetta vá contra toda esta estrutura. Ele não conseguirá fazer nada. Seria o mesmo que nadar contra a correnteza de um rio forte e caudaloso. Por outro lado, se for para substituir Mandetta por alguém que mantenha o mesmo caminho hoje adotado não faz o menor sentido a troca do ministro.
Bolsonaro tem inúmeras limitações cognitivas, mas ele foi eleito e por isso sabe para que lado sopra o vento da opinião pública. Ele sabe que se o eventual substituto de Mandetta for contra o SUS e contra todas as determinações da Organização Mundial de Saúde (OMS), haverá mais problemas do que saídas para a crise. Bolsonaro tem total noção dos limites de sua irresponsabilidade, é por isso que vem sendo muito difícil demitir Mandetta.
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