Bolsonaro está em péssima situação. Ele tem a capacidade política de um jogador de damas sofrível, e ao se tornar presidente teve que jogar xadrez com os grandes mestres da política brasileira. Ele passou um ano e quatro meses movimentando muito mal suas peças e hoje está encurralado no tabuleiro pelo Congresso e pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
No STF há quatro investigações que hoje equivalem a um xeque, mas dependendo do que Bolsonaro fizer pode se tornar um xeque-mate, são elas o inquérito das fake news contra o próprio STF, que parece envolver seu filho vereador, a investigação sobre o ato na frente do quartel do exército em Brasília, quando em um domingo Bolsonaro falou para manifestantes que pediam o fechamento do regime democrático, e por fim a investigação baseada no discurso de demissão de Sérgio Moro do Ministério da Justiça.
É a primeira vez na história em que Presidente da República é um sem partido. Não há partido, tampouco base congressual. O resultado é que Bolsonaro passará a depender daqueles políticos que tradicionalmente apoiam qualquer governo. A maioria deles está nos partidos do Centrão. Os principais líderes são velhas raposas, que conhecem os meandros da política, têm relações antigas entre eles, com juristas de tribunais superiores, funcionários públicos de alto escalão e jornalistas importantes.
O xeque foi possível graças ao próprio Bolsonaro. Ele tinha um imenso capital político, 57 milhões de votos, junto com um núcleo bastante aguerrido de apoiadores. Desde que tomou posse o Presidente não para de brigar e de escolher caminhos distantes do bom senso da política. O mais recente foi sua postura diante da pandemia do coronavírus, que o levou a perder apoiadores que tinham votado nele em 2018. Isso é comprovado pelas panelas, que são batidas desde que começou a quarentena em bairros nos quais Bolsonaro teve 70% ou mais de votos. Foi Bolsonaro quem dilapidou o seu capital político.
Quem já jogou xadrez sabe que é uma imensa vantagem fazer o primeiro movimento, ou seja, jogar com as peças brancas. Bolsonaro joga com as brancas pelo simples fato de ser o Presidente da República. Ele desperdiçou inteiramente essa vantagem, e hoje suas peças estão totalmente encurraladas. Se ele fizer muitos movimentos ousados, fora do recomendado pelos manuais de xadrez, correrá o risco de sofrer o xeque-mate.
Excelentes análises . Parabéns!