Luiz Antônio Fleury foi eleito governador de São Paulo em 1990 quando ainda não havia reeleição. Fleury era o candidato do então governador Orestes Quércia, que se esforçou bastante, com sucesso, para que seu partido mantivesse o controle do Estado. Na época havia bancos estaduais e eles foram utilizados de forma irresponsável para turbinar os gastos públicos.
Atribui-se a Quércia a frase “quebramos o Banespa, mas elegemos o Fleury”. É claro que ele sempre negou a autoria da sentença. A julgar pelo efeito do auxílio emergencial na popularidade de Bolsonaro, passou estar no horizonte a repetição da frase, desta vez aplicada ao Brasil e já com o instituto da reeleição. Não descarto que ao final de 2022 o atual presidente possa vir a falar em caráter reservado: “quebrei o Brasil, mas me reelegi”.
Segundo o Datafolha em dezembro de 2019 as pessoas que recebiam até dois salários mínimos eram em torno de 30% do ótimo/bom de Bolsonaro. Em junho de 2020 esse percentual saltou para 50%. Vale enfatizar: de todo o eleitorado que avalia positivamente o atual governo, 50% recebe no máximo dois salários mínimos. Bolsonaro sabe disso, não apenas por conta da existência das pesquisas, mas principalmente porque ele tem o voto, e Paulo Guedes não tem.
Bolsonaro está submetido à urna. Chega a ele diariamente de todos os cantos do país, por meio dos políticos, relatos de que pessoas simples que antes o rejeitavam e agora, depois de terem acesso ao auxílio emergencial, passaram a gostar de seu governo. Já circula junto à população pobre que se trata do “dinheiro do Bolsonaro”. O presidente conhece por experiência própria o que é ser querido, o que é ser aprovado e o que atrai o eleitor. Sua capacidade de comunicação, que é muito eficiente, tem a ver com isso. Bolsonaro é o dono do voto.
A instituição central da democracia é a eleição, e a cada quatro anos o eleitorado é chamado a se manifestar sobre seus governantes. A escolha de ministros é prerrogativa do presidente eleito. Paulo Guedes não faz a menor ideia do que seja buscar votos, seduzir o eleitor, persuadir homens e mulheres a votarem em você e não em seu adversário. Quem manda é quem tem voto.
Bolsonaro irá exigir de Paulo Guedes, a fim de que sua popularidade seja mantida, mais gastos. Essa exigência se tornará mais forte na medida em que 2022 se aproximar. Restartá a Paulo Guedes manter-se ministro e ceder a Bolsonaro ou deixar o governo. O fato é que a crise da pandemia e a postura do Presidente em relação a ela, fazendo-o perder apoio de seu eleitorado, o obrigará a gastar mais para conquistar o voto que ele não teve em 2018.
Dentro da democracia não há como impedir Bolsonaro de fazer com que seu governo gaste mais e, eventualmente, quebre o Brasil. Como o país permanecerá sendo uma democracia, o futuro parece ser o da irresponsabilidade fiscal.
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