Bolsonaro tem em seu DNA o conflito permanente. Como deputado de baixo clero ele se tornou nacionalmente conhecido graças ao conflito radical e às coisas absurdas que sempre falou e defendeu. O voto para deputado permite que alguém seja eleito sete vezes tendo apenas um pequeno nicho eleitoral: o dos votantes que gostam de briga. O sucesso de Bolsonaro se deveu a isso, tanto nas eleições para a Câmara quanto, surpreendentemente, para Presidente. Digo surpreendentemente por se tratar de uma eleição majoritária, com uma lógica oposta à eleição proporcional.
É possível ser eleito no voto proporcional cultivando-se uma pequena fatia do eleitorado. O oposto acontece no voto majoritário, quando a vitória depende de se obter mais de 50% dos votos válidos. Bolsonaro conseguiu 55% com um discurso de candidato a deputado federal e acabou levando isso para seu governo.
Desde o primeiro dia de mandato, durante todo o ano de 2019 e até mesmo nos piores momentos da pandemia o que se viu foi um Presidente da República beligerante, grosseiro, gerador de crises em função de seus pronunciamentos. As falas de Bolsonaro acerca das mortes pelo coronavírus têm sido repulsivas, ele expressa continuamente um solene desprezo pela vida dos brasileiros. Além disso, a cada domingo ataca as instituições democráticas do país.
Quem quer briga não pode deixar sua retaguarda desprotegida, pois haverá resposta. É exatamente o que está ocorrendo agora. Bolsonaro tem vários fios desencapados em sua trajetória política, tanto antes quanto depois de se tornar presidente: rachadinha, suspeições acerca do assassinato de Marielle, loja de chocolates, filhos envolvidos com ilegalidades, fake news na campanha de 2018, durante o governo e contra o Supremo Tribunal Federal. Enfim, quem desejar responder aos ataques de Bolsonaro sabe que ele tem inúmeras vulnerabilidades. É o que estamos vendo agora.
Bolsonaro está em cima do cadafalso e com a corda no pescoço. Portanto, convém não brigar com o carrasco. Há ainda margem de manobra para que ele seja resgatado desta situação complicada, e o Centrão está disposta a ajudar. Mas a primeira ajuda parece estar vindo do próprio Bolsonaro: na última semana ele começou a copiar o Lula da campanha de 2002, e se tornou o Bolsonaro paz e amor.
Não sabemos quanto tempo isso irá durar. Vai depender do cabo de guerra entre as sinapses de Bolsonaro, geradas por seu DNA, e o seu instinto de sobrevivência. O Brasil agradecerá se a sobrevivência falar mais alto.
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