A afirmação de que “Mandetta perdeu apoio entre os militares” carece tanto de evidências empíricas, quanto de lógica. Nenhum militar veio à público afirmar que o Ministro da Saúde errou ao conceder a entrevista ao Fantástico. O único argumento mencionado para a suposta retirada de apoio foi o de que os militares consideraram a entrevista quebra de hierarquia. Trata-se de um argumento fraco, uma vez que os militares conhecem bem as diferenças existentes entre a hierarquia militar e a sua prima distante na política.
Por outro lado, há duas razões fortes para crer que os militares continuam apoiando Mandetta. A carreira militar no oficialato é marcada por uma formação científica. Quem circunda a área militar da Praia Vermelha no Rio de Janeiro, além de vislumbrar a estação de partida do bondinho que leva ao Pão de Açúcar, irá se deparar com a sede do Instituto Militar de Engenharia, o IME. Militares têm cabeça de engenheiro, sem o que não haveria treinamento possível para a guerra. Isso faz com que valorizem a ciência e, consequentemente, o que Mandetta vem fazendo para combater o coronavírus.
A segunda razão é mais conjuntural. Os militares que estão no governo são pessoas sóbrias e bem formadas, são sérios. Não são fanfarrões, tampouco têm ligações suspeitas com milicianos do Rio de Janeiro. Eles estão plenamente conscientes de que Bolsonaro é uma canoa furada. Com menos de 18 meses de governo o desgaste é imenso e a perda de apoio junto ao mundo político e aos formadores de opinião é muito grande. Estar no governo é bom: para os militares que ocupam os cargos no Poder Executivo isso significou um aumento de renda considerável. Porém, se for possível os militares irão evitar que o desgaste do governo respingue na imagem da corporação. E aqui entra o apoio a Mandetta, a sua saída do governo, neste momento, seria um desastre considerando-se esse objetivo dos militares, o de preservar a imagem da Forças Armadas.
Diante destas duas fortes razões para a manutenção de Mandetta, não seria uma simples entrevista no Fantástico que mudaria a forma de pensar dos militares que estão no governo. Essa ideia de que eles retiraram o apoio político ao Ministro da Saúde mais parece uma versão mitigada daquilo que se convencionou chamar de fake news.
Quem lançou esse factóide, sem pé nem cabeça, foi a jornalista Thais Oyama; a famosa “e a Venezula?”.
*Venezuela